Criticas
Sobre "Punhais do Minuano"
Ao Suldo Sul, o Poeta
Jaime Vaz Brasil, jovem médico bageense, despontou como poeta na curva ascendente dos festivais de música nativista. Vim a conhecê-lo, a nível literário antes de pessoalmente, através dos trabalhos que mandava de Pelotas, a terra ao sul do sul onde estudou, para o Mário Barbará, em São Borja. Letras para serem musicadas e, como várias vezes aconteceu e com sucesso, para o enfrentamento final nos palcos iluminados desses festivais - congraçantes e catalisadores pólos sazonais do sentimento gaúcho.
Mário, amigo comum, mostrava-me os poemas de Jaime que lhe vinham pelo correio, capeados por um bilhete de boa letra. "Dádiva" - um desses poemas -, chamou-me sobremodo a atenção. Pela contenção de linguagem, pela nobreza com que vestia a redondilha maior, pela atualidade temática, por seu intrínseco vôo de asa liberta.
Passei, de então - apostando já em seu talento -, a acompanhar-lhe a trajetória em crescendo, a ascenção do nome a impor-se a cada lance, a ponto de, em breve, ser disputado como poeta-letrista pelos mais eminentes compositores da música rio-grandense.
Sua letras primavam pela objetividade, pelo saber onde ir, pela mensagem implícita bem posta. Nelas, sem exceção, não transitava o ranço tradicional-passadista, a solução fácil, a rima pelo simples efeito sonoro. Nos trabalhos vazados em quadra - uma constância em seu trabalho conhecido - cheguei a perceber a "pedra" de João Cabral de Melo Neto. Antes pelo tratamento enxuto (pedra não é pão, pão não é pedra) que pela forma e o traço: a palavra em seu exato lugar, a metáfora com energia e função, a seta ao alvo atravessando o vento. E de repente, na carne do poema, o sangue do telúrico que pôs aldeias de Tolstoi no universo poético de Lorca.
O poeta que agora conheço em meridiano mais amplo, através dos originais de seu livro de estréia (que me confiou para essas palavras de introdução), se não me surpreende pela excelência já dantes conhecida de um bom punhado de trabalhos, permite-me desde agora colocá-lo na prateleira mais alta da estante de livros. Porque se apresenta maduro como raríssimos na literatura "hoje" do Rio Grande do Sul.
Jaime esgrima a palavra como um Cirano de Bergerac - o golpe atrevido e certo após o torneio elegante da espada viva. Sai da redondilha maior para o verso livre sem perder a mão da rédea; espraia-se, por opção de discurso, em alguns textos mais densos, sem prejuízo do fundamental poético; abre as portas de boa madeira da querência e viaja pela Latio-América, quando universaliza seu canto e sua voz se timbra pela ressonância dos búzios de outros mares.
Não esperem de Jaime - os menos avisados que apenas o conhecem como letrista dos maiores festivais nativistas - somente a elegia campeira em ressongo da gaita de oito baixos. Jaime, com muita facilidade, extrapola o rótulo de cantor querenciano - é a bússola enlouquecida de que nos fala Wilde.
Na síntese: um homem (um jovem) de seu tempo, um intérprete que tem os olhos limpos para o sentimento do mundo. Um gavião com terra da querência no íntimo das garras. O poeta que nos diz, a partir daí e por isso - e aqui está o melhor deste prefácio: "em nada existe sentido / se a liberdade se ausenta".
Apparício Silva Rillo
São Borja, março de 1988
A poesia em Jaime é concisa. Tem o corte de quem sabe deixar as perguntas e interjeições em vez de distribuí-las. As tentações do fácil e do repetido são banidas de forma impiedosa. E triunfa um estilo que se revela cada vez mais pessoal e vigoroso.
Letrista, realiza poemas absolutos. Seus fantasmas são enigmáticos e graciosos. Poesia, e diga-se arte, é feita de emoção. Mas emoção é feita de densos recatos. E nisso Jaime também é mestre.
Percebo e deponho sobre a importância de seu trabalho neste ciclo de cultura: sem ele, o facho teria se apagado na esquina. Ele redescobre o sentido do verbo criar.
Arte é tradição envolvida, irremediavelmente, em elos de imaginação. Seu trabalho tem essa força. Respira o passado, e canta o que virá na tonalidade correta de seu estilo.
Luiz Coronel
Surpreendente, é o mínimo que pode dizer da poesia de Jaime Vaz Brasil. Apesar de estreante, (ao menos em livro), é desses poetas que já nascem feitos; seus versos revelam um seguro domínio da palavra, um rigor que evoca João Cabral, no melhor sentido.
Enfim, um novo poeta. Um grande poeta.
Moacyr Scliar
Poeta que já surgiu pronto nos festivais de música, com uma poesia vigorosa, Jaime Vaz Brasil sabe o que fazer com as palavras e maneja com plena segurança a difícil arte da poesia, conjugando a beleza das imagens com a dignidade dos conteúdos humanos e socias.
A poesia de Jaime Vaz Brasil contém a grandeza de toda a verdadeira obra de arte, manifestada na dimensão estética e ética de tudo o que escreve.
Dilan Camargo
Declaro-me sensibilizado pela poesia do Jaime. Gosto de como ele ordena as palavras, estrutura as idéias e imagens, constrói rimas ou prescinde delas, obtendo sempre resultados e efeitos extraordinários. E como fala Vinícius de Moraes, poetinha da minha saudade, arremato: "A bênção, Jaime Vaz Brasil, Poeta Grande do Sul".
Paulo Deniz
Já estávamos mais ou menos habituados a alguns nomes inovadores, nos festivais gaúchos, quando ele apareceu vindo do "vácuo". Explico: num panorama onde as renovações de autores se processam de forma muito lenta, é difícil alguém chegar e provocar logo a indagação: "Êpa, quem é esse cara?"
O recém-chegado se mostrava um escritor de letras densas, geralmente longas, evitando sempre as soluções esperáveis, e um hábil e exímio escultor de imagens. Surgiu através de parcerias certeiras, a provar que também não tinha tempo a perder no limbo em que são colocadas, por um tempo, as "revelações". E foi extremamente breve o tempo necessário para que ele passasse a integrar o primeiro grupo de poetas responsáveis pela renovação do cantar rio-grandense.
O poema de Jaime toca e pode ser tocado. e deixa sempre um mundo de impressões no meio.
Juarez Fonseca
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