Poemas
Milonga para Constâncio Soledad
Constâncio chegou ao rancho
e viu a casa vazia.
Não de móveis, não de coisas.
Mas algo de mais valia.
Chamou por ela três vezes.
Foi ao pátio, foi à sala.
No quarto, achou a resposta
da pergunta que não cala.
(Não cala e não dorme nunca).
Dizem que sempre o abandono
no travesseiro das dores
espanta pra longe o sono...
Constâncio, anos depois,
ainda lambe as feridas.
(E diz quem bem o conhece:
- Perdeu a fome da vida).
Constâncio não sente fome,
mas a dor sempre põe mesa.
Nele, há um pêndulo que oscila
entre a raiva e a tristeza.
Magro de alma e de corpo.
(Barco sem água e sem cais).
Na fronte, encravado e tenso,
um riso de nunca mais.
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